De modo geral, gosto mais das interpretações dos compositores de suas próprias músicas, por ser um registro mais próximo da concepção original, que nos revela sentidos e nuances pretendidos.
Como toda generalização, há inúmeras exceções, e mesmo no caso de um compositor como Chico Buarque, cujas canções costumam ser mais na própria voz, as interpretações de Maria Bethânia são uma experiência à parte, como a clássica Olhos nos Olhos. Pena, pena mesmo que o recente show de Bethânia cantando Chico não veio ao Rio.
Outro caso é A Mais Bonita (Chico escolheu o título pra implicar com Tom Jobim, que compusera Bonita), de que há uma gravação de Chico e sua sobrinha Bebel Gilberto em um disco de Chico de 91 bastante esquecido, embora contenha preciosidades como Valsa Brasileira, única canção a estar presente em todos os shows de Chico desde então, sempre com a mesma luz inspirada na original de Ney Matogrosso para a turnê de Paratodos. Além de A Permuta dos Santos, o Futebol... mas a lista é imensa...
Na letra da canção, composta para a peça Suburbano Coração, o cenário exposto em trechos como "na casa de espelhos espalho meus rostos e finjo que finjo que finjo que não sei" nos permite supôr que Chico quis inverter a etimologia do verbo revelar ("Eu preciso me mostrar / Bonita / Pra que os olhos do meu bem / Não olhem mais ninguém / Quando eu me revelar / Da forma mais bonita") e usando o prefixo re não no sentido de contrário (replicar, rebater), para dizer desvelar, tirar o véu, mas sim no sentido de repetição (reafirmar, repetir), para dizer esconder o escondido, fingir que finge que finge...
Ou será que só eu escuto essas coisas, depois de cantar oitocentas vezes a música?
Essa música é linda. Ótimo texto, parabéns ;)
ResponderExcluirÓtima música, ótimo texto.
ResponderExcluirAbraços.
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